Um pequeno projeto piloto de participação que quis desenvolver como
voluntária europeia do GAIA Alentejo. Venho explicar como surgiu e o que aconteceu nele.
Chegar a Alvalade é chegar ao Rio Sado.
Duvido que exista algo mais valioso que um rio para uma população. No entanto, o Sado que encontrei fica longe de poder ser integrado pela população do Concelho. Uma situação a ser repensada, pois a saúde
ecológica também é a nossa saúde.
Este é um assunto relevante para toda a gente, pois o rio beneficia todos sem distinção. No entanto, se as condições do rio mudam, essas benesses mudam também. Será que o rio tem o mesmo significado para ti que para a tua avó? Podes desfrutar dele como gostarias? Consegues imaginar um futuro onde as crianças possam dar um mergulho, andar de canoa ou pescar?
Estas e outras perguntas fizeram que me decidisse por escolher este tema para ser abordado entre todas as pessoas interessadas. Partindo desta reflexão, escrevi uma proposta e apresentei-a às instituições locais, que aceitaram logo serem parceiras do projeto: Associação de Regantes e Beneficiários do Sado e Alto Campilhas (ARBCAS), AlenSado, Junta de Freguesia, Casa do Povo e o Museu Arqueológico.
Embora houvesse/tenha tido pouco tempo para desenvolvê-lo, conseguimos fazer acontecer duas sessões:
– uma de aproximação (para saber qual é o passado do rio, as nossas próprias memórias, o que pensamos sobre ele, como gostaríamos de o ver, etc…) e outra de diagnóstico (para identificar a sua problemática e o
que pode ser feito para melhorar a situação).
Na sessão de aproximação, aberta ao público, compareceram umas 30 pessoas de faixas etárias e perfis muito diferentes: o Zé o eletricista e o seu filhote, o engenheiro Ilídio, a Nídia, a assistente do museu, Sérgio o agricultor, Rita a atriz…
Falámos e partilhamos sobre o Rio enquanto passeávamos ao seu
lado, apoiados pelas explicações da Dra. Manuela de Deus e de diferentes perguntas para refletir e lembrar. Foi uma manhã muito especial, onde vieram à tona memórias, visões e sensações de outros tempos, passados e futuros, construímos uma primeira imagem comum e aprendemos juntos. Por exemplo, descobrimos como foi a mudança do curso do rio que deixou a “ponte romana” fora de uso, como aconteceu a transformação para o regadio, qual era o comportamento do rio antes da construção da barragem ou como era aproveitado há umas décadas atrás.
Na sessão de diagnóstico fez-se um convite mais pessoal com o fim de praticar dinâmicas com mais foco. Escolhemos fazer a árvore dos problemas e traduzir esta para a árvore das soluções.
Desta forma, conseguimos diagnosticar os problemas principais, as suas origens e consequências, assim como a visualização de soluções e meios para as atingir. Mas, talvez o mais importante tenha sido a percepção da capacidade de transformação dos processos participativos. Como disse uma das participantes: ”Num exercício tão pequeno já temos identificado muita coisa, imagina se isto mesmo tivesse sido feito por 50 pessoas”.
A imaginação, tão pouco valorizada nos dias de hoje é, de facto, o primeiro tijolo na construção de novas realidades, de um Sado saudável.
Obviamente não é fácil iniciar estas práticas, nem muito menos viabilizar as tais soluções. No entanto, gosto de pensar que neste pequeno processo, conseguimos treinar de forma pessoal e coletiva este
músculo invisível de criação, e perceber o seu potencial a longo prazo.
Para finalizar, quero expressar a minha GRATIDÃO, especialmente aos parceiros e à minha coordenadora, Rita Magalhães, pela oportunidade, o apoio e a atenção recebida.
O vídeo que acompanha é só uma pequena prenda de agradecimento e lembrança do praticado juntos.
Oxalá sirva de incentivo para dar continuidade à aventura de imaginar e criar em conjunto um Sado saudável para todos.
Eva Moreno – voluntária no Projecto CES Ser Rural